Deus é não só supremamente misericordioso, mas também
supremamente justo. E como Ele se revelou em sua Palavra,
sua
justiça exige que nossos pecados, cometidos contra sua
infinita
majestade, sejam punidos nesta vida e na futura, em corpo
e alma. Não
podemos escapar destas punições a menos que seja cumprida
a justiça
de Deus. (Cânones de Dort II.1)
Nesse artigo é lançado um princípio teológico fundamental
que não pode
ser ignorado ou negado quando falamos de quaisquer dos
tratamentos de Deus
com os homens, e especialmente com os homens pecadores.
Na presente
discussão os pais enfatizam particularmente que esse princípio
não pode ser
negado quando falamos dos tratamentos redentores de Deus.
A razão é, sem
dúvida, que Deus mesmo não ignora esse princípio, ou
antes, que Deus nunca
age contrariamente ao Seu próprio Ser. Além do mais, os
pais aqui não lançam
meramente um princípio fundamental, mas delineiam as
conseqüências desse
princípio até onde diz respeito o pecador. O princípio,
positivamente falando, é:
Deus é supremamente justo. As conseqüências são:
1) Nossos pecados cometidos contra Sua majestade infinita
devem ser
punidos com castigo temporal e eterno, tanto no corpo
como na alma.
2) Pode-se escapar desse castigo apenas se for feita
satisfação a essa justiça
suprema de Deus.
Deve ser observado, em primeiro lugar, que os Cânones não
falam ainda
nesse artigo da morte de Cristo e da redenção dos homens
por meio dela. Os
pais estão lançando o fundamento para a doutrina
Reformada da redenção. Esse
fundamento não é meramente a misericórdia de Deus, mas
Sua justiça
infinitamente perfeita também. O método que os pais
seguem é
indubitavelmente correto. O fundamento determina o
tamanho, a forma e a
firmeza de toda a estrutura, sem dúvida. Mas
historicamente a razão para esse
método dos pais reside no fato que os Remonstrantes
atacaram o próprio
fundamento da verdade da redenção, e tentaram destruí-lo.
Aparentemente, eles
queriam remover uma das colunas do fundamento que está
fixa na rocha do Ser
divino, e queriam que a verdade da redenção descansasse
somente em um pilar,
aquele da misericórdia divina. O problema é que quando
você remove uma
pedra do fundamento, você não fica com um fundamento
parcial, mas não resta
nenhum fundamento, seja qual for ele: o fundamento é um.
Nossos pais
Reformados, portanto, insistem sobre os fundamentos,
sobre as pedras
fundamentais, antes de erguerem a estrutura da verdade da
redenção.
Em conexão estreita com isso, devemos observar, em
segundo lugar, que
os pais seguem um método que é com freqüência muito
desprezado e
condenado apenas em nossos dias, a saber, o método
teológico: eles começam com
a verdade com respeito a Deus mesmo. A pressuposição
desse primeiro artigo é
que você não pode dizer nada sobre a redenção, sem dizer
algo sobre o Deus
Redentor, e que o seu conceito do último determina o seu
conceito do primeiro.
Ou, para colocar isso em forma geral, toda doutrina é
principalmente teologia,
doutrina de Deus. Isso também teve sua razão histórica.
Os próprios arminianos
adotaram um certo ponto de partida teológico. Eles amam
enfatizar o amor e a
misericórdia de Deus, à exclusão de Sua justiça e
retidão. Dessa forma, eles
gostam de acusar os Reformados de ter um conceito duro e
frio de Deus como
um Deus inexoravelmente severo e justo, um Juiz que não
conhece
misericórdia. A essa acusação concernente ao seu Deus, os
defensores da fé
devem primeiro dar a resposta. Tanto Reformados como
arminianos concordam
que a Teologia de uma pessoa determina sua Cristologia, e
que, por conseguinte,
se eles discordam sobre Teologia, eles também estarão em
divergência em sua
Cristologia.
Os arminianos colocam um conflito em Deus entre Sua
justiça e Sua
misericórdia, um conflito no qual a misericórdia divina
sai vitoriosa e sobrepuja
a justiça divina. De acordo com Sua misericórdia, assim
eles ensinam, Deus
deseja a felicidade do pecador e não pode lhe causar
sofrimento e miséria. E
embora Sua justiça requeira que o pecador seja assolado
com a maldição e
morra, Deus não pode exercer Sua justiça sem fazer
violência à Sua
misericórdia. Por conseguinte, Sua misericórdia
prevalece. Ele nega a Sua justiça,
e sem a satisfação de Sua justiça, concede ao pecador
perdão e vida eterna.
O erro fundamental nesse conceito reside no fato que ele
nega a unidade
e simplicidade de Deus, e nega a unidade essencial de
Seus atributos. Ele coloca
uma fissura em Deus. Ora, não devemos imaginar que os
pais de Dordrecht vão
ao extremo oposto e mantêm a justiça de Deus em
preferência à Sua
misericórdia. De forma alguma; mas eles mantêm tanto a
justiça divina quanto a
misericórdia divina; contudo, não em conflito
irreconciliável um com o outro,
mas em unidade essencial. Declarada brevemente, a justiça
de Deus é aquele
atributo de Sua bondade de acordo com o qual Ele se
mantém como o único
Deus bom e infinitamente perfeito, e de acordo com o
qual, com referência às
Suas criaturas morais, Ele recompensa o bem com bem e o
mal com mal. A
misericórdia de Deus é aquele atributo da bondade de Deus
segundo o qual Ele
é louvado como o Deus infinitamente bom, e segundo o
qual, com referência às
criaturas, Ele é a única fonte de toda bênção, e portanto
livra as criaturas de
toda miséria e enche-as de vida e alegria. Agora, como
Deus é Um, assim Sua Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação”(Jonas
2:9)
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misericórdia e Sua justiça são uma nele. Deus é Seus
atributos. Sua misericórdia
é Sua justiça, e Sua justiça é Sua misericórdia. Nunca há
uma misericórdia em
Deus que não seja justa, nem uma justiça que não seja
essencialmente
misericordiosa. Sua justiça, portanto, nunca funciona sem
Sua misericórdia, e
Sua misericórdia nunca opera à parte da Sua justiça. Não
há conflito em Deus!
Tal é a verdade fundamental desse artigo. E os pais
queriam dizer: “Se você for
falar sobre a misericórdia de Deus, tudo bem; mas quando
fazê-lo, não esqueça
e não negue aquela justiça divina infinitamente perfeita
que caracteriza também
a misericórdia divina.”
A conclusão, portanto, é a seguinte:
1) A justiça divina requer a punição do pecado, um
requerimento que a
misericórdia divina nunca pode ignorar.
2) A justiça divina requer a punição exata do pecado,
isto é, uma punição que
seja igual em medida ao pecado. Dessa forma, o pecado
contra a majestade
infinita de Deus requer punição infinita, isto é, não
somente temporal, mas
punição eterna, tanto no corpo como na alma.
3) A misericórdia divina não pode se dirigir ao pecador,
exceto sobre a base
do pagamento completo desse débito de pecado. A justiça
de Deus deve
ser satisfeita. Sobre nenhuma outra base o pecador pode
sequer provar a
misericórdia de Deus. Deus, que é realmente Deus, não
pode negar a Si
mesmo.
Esse é o ensino claro da Escritura em muitos lugares,
embora os Cânones
não forneçam referências bíblicas nesse artigo. Afinal,
essa é a posição do
Catecismo de Heidelberg também. E já no tempo do Grande
Sínodo, foi
considerado suficiente nos círculos Reformados citar o
Catecismo como a
norma da doutrina Reformada. Os arminianos também sabiam
que essa era a
instrução no Dia do Senhor IV, Pergunta e Resposta 11.
Eles sabiam, também,
que essa posição do Catecismo de Heidelberg era
escriturística; e juntamente
com seus companheiros nas Igrejas Reformadas, eles tinham
aceitado essa
posição do Catecismo de Heidelberg como bíblica. Mas
agora eles iriam rejeitá-
la. Dessa forma, os pais consideraram desnecessário citar
a Escritura nesse
relato, mas acharam apropriado simplesmente fazer menção
desse princípio
fundamental.
Esse é o fundamento da doutrina Bíblica e Reformada da
redenção em
Jesus Cristo.
Fonte (original): The
Voice of Our Fathers: An Exposition of the
Canons of Dordrecht,
Homer Hoeksema, Reformed Free Publishing
Homer C. Hoeksema
Soli Deo Gloria.
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